sitemap VIII Encontro de Linguística de Corpus
 
 
 

Colocações adverbiais em Inglês para negócios: Uma proposta à luz da lingüística de corpus


Andréa Geroldo dos Santos (USP- PG)


Este trabalho tem como objetivos: demonstrar a importância do ensino da convencionalidade para que um aprendiz de língua estrangeira consiga fluência na língua-alvo; descrever como os elementos da convencionalidade têm sido explorados em materiais didáticos voltados para aprendizes de inglês como língua estrangeira; com base num corpus monolíngüe (inglês) compilado em periódicos de negócios e relatórios anuais de empresas disponíveis on-line, levantar e analisar quais colocações adverbiais são típicas da área, a fim de propor outra abordagem de ensino no que se refere a esse tipo de colocações – uma abordagem que se desvencilhe do aspecto gramatical e se aproxime mais dos aspectos lexicais, pragmáticos e/ou semânticos.

A fluência na língua-alvo talvez seja uma das maiores preocupações no tocante ao ensino de uma língua estrangeira, fato esse abordado em diversos estudos. A fluência do discurso ocorreria quando o falante/ouvinte não mais precisa se concentrar na produção/recepção de palavras individuais, mas se concentra no discurso como um todo.

A pergunta em aberto é como a fluência de um aprendiz de língua estrangeira pode ser definida. O termo ‘fluência’ é muito utilizado para descrever um desempenho bom e sem esforço em uma língua, mas que, em geral, é definido de forma vaga. Tradicionalmente, valorizam-se as regras gramaticais e a exatidão, pois ainda há quem acredite que a fluência é resultado da habilidade de se construir frases com exatidão. Em outras palavras, ainda persiste o mito de que, se o aprendiz dominar as estruturas lingüísticas e conhecer um determinado número de palavras, terá condições de se expressar fluentemente na língua-alvo.

Contudo, mesmo alunos de estágios avançados ainda têm dificuldade de se expressar de modo natural e fluente, apesar de possuírem um bom domínio das estruturas lingüísticas. Isso se deveria ao fato de o aprendiz ainda ser considerado um “falante ingênuo” (“innocent speaker”). Assim, apesar de conhecer a morfologia e as estruturas gramaticais, esse aprendiz ainda decodifica o significado de uma frase considerando isoladamente suas partes constituintes e expressa suas idéias do modo mais direto possível, sem se valer de expressões ou colocações usadas comumente por falantes nativos.

Vemos assim que só o conhecimento das regras gramaticais não garante que o aprendiz escolherá corretamente os elementos lexicais que soem naturais. Essa escolha depende de convenções lingüísticas, as quais são “os ‘jeitos’ aceitos pela comunidade que fala determinada língua. Assim, podemos chamar de convencionalidade o aspecto que caracteriza a forma peculiar de expressão numa dada língua ou comunidade lingüística.. Dentro da convencionalidade, interessa-nos investigar como as colocações são ensinadas para aprendizes de inglês.

No material didático para o ensino de inglês geral já aparecem referências à freqüência das colocações ou a situações de uso nos exercícios propostos. Tais estratégias são utilizadas, por exemplo, na série Touchstone (voltada para o ensino de inglês geral) e no Longman dictionary of contemporary English online.

Contudo, numa pesquisa-piloto realizada para verificar como as colocações são abordadas em material para o ensino de inglês para negócios, notamos que o mesmo ainda não ocorre. Nossa pesquisa demonstrou que, se há a preocupação de ensinar as colocações (principalmente as verbais e nominais), ainda pouco é feito em relação às colocações adjetivas e adverbiais. E, quando isso ocorre, é feito da maneira tradicional, ou seja, supõe-se que basta a memorização das classes gramaticais (quais são os adjetivos e os advérbios, por exemplo) para levar o aprendiz a usar as colocações adequadamente.

Embora haja vários trabalhos baseados em corpus que se refiram ao ensino de línguas, tanto em relação ao “inglês geral” quanto ao “para negócios”, ainda nada encontramos em relação ao ensino das colocações adverbiais no contexto de inglês para negócios.  Frente a essa lacuna, propusemo-nos levantar e analisar à luz da Lingüística de Corpus quais colocações adverbiais (formadas por verbo + advérbio ou advérbio + adjetivo) são típicas dessa área e propor uma abordagem que contemple essas unidades lexicais. 

Para isso, apresentaremos o procedimento de coleta de um Corpus de Estudo (doravante CE) monolíngüe em inglês, assim como a análise de algumas colocações adverbiais encontradas e possíveis implicações que os resultados possam ter no processo de ensino/aprendizagem de língua inglesa para negócios.

Nosso CE é formado por textos de periódicos de negócios britânicos e americanos disponíveis na internet, assim como relatórios de empresas britânicas e americanas, obtidos no site Annual Reports, num total de 2.310.143 palavras.

Com o auxílio da ferramenta Concord do WordSmith Tools5, analisamos as listas de concordância e selecionamos as colocações que ocorreram no mínimo duas vezes com o mesmo significado (verificado manualmente pela pesquisadora). Recorremos também à calculadora on-line do LAEL para computar o escore T e a informação mútua.  Os resultados apontaram as seguintes colocações no CE:  adversely affect (62 ocorrências), actively managed (31),  directly recognised (30), work closely (30), widely expected (28), fall sharply (25), rise sharply (22) e closely watched (18)  como típicas da área de negócios, o que significa que elas precisariam ser praticadas pelos aprendizes a fim de tornar seu discurso mais fluente e natural.

Nossa pesquisa também demonstrou que não é mais possível ignorar as listas de frequência para elaborar material didático - sem elas, corre-se o risco de ensinar o que não é relevante. Por exemplo, três colocações adverbiais presentes num dos livros estudados na pesquisa-piloto: badly misjudged, superbly presented e thoroughly enjoyed como típicas da área de negócios não ocorreram até o momento no nosso CE. Por outro lado, nenhuma das colocações encontradas em nosso CE foi abordada pelo livro.

Finalmente, ao observarmos as colocações adverbiais mais freqüentes no CE, parece não haver nada que impeça que elas sejam ensinadas desde o nível básico, a não ser a camisa-de-força imposta pela gradação do conteúdo programático (distinguindo também entre itens lexicais e gramaticais) que deve ser ensinado em cada nível. Não afirmamos aqui que as colocações adverbiais sejam as mais importantes, mas sim, que se o aluno de inglês para negócios aprende logo no nível básico verbos como work, por que não pode aprender que um dos seus possíveis colocados é closely? Ou sharply, para os verbos rise e fall?


PALAVRAS-CHAVE: ensino; negócios; colocações; corpus.

Resumo