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Linguística de Corpus e multiletramentos: Uma nova interface pedagógica para o ensino de língua


Cristina Arcuri Eluf Kindermann (USP-PG)


Contextualização


Na sociedade contemporânea nos encontramos em uma constante “pressão tecnológica” que tem refletido diretamente em nossas vidas e enquanto educadores buscamos integrar-nos com as novas tecnologias e novos dispositivos mais poderosos e multifacetados que interagem em qualquer ramo de atividade ou esfera social.

No ambiente educacional esta “pressão” está intimamente ligada aos nossos propósitos pedagógicos, ao currículo escolar e principalmente às relações entre professor e aluno, dentro e fora do âmbito escolar. No ensino superior brasileiro, o aprendizado da língua inglesa como língua estrangeira - English as a Foreing Language (EFL) - tem se fragmentado entre uma multiplicidade de teorias, metodologias e práticas híbridas devido à velocidade das mudanças impostas pelas Tecnologias de Informação e Comunicação- TICs. Nesse quadro, a língua inglesa é reconhecida como língua franca da comunicação global.


Revisão da Literatura


Segundo Castells (1999) o processo de transformação advindo da revolução tecnológica tem como principal eixo a formação da economia global, a introdução das novas tecnologias para a comunicação e para a distribuição de informação e construção do conhecimento. Tais fatores acarretaram um processo de mudança cultural cujas principais transformações marcam nossa época historicamente pela estreita interdependência entre as esferas econômicas, políticas e socioeducacionais. Essas teorias sociais pós-industriais, cujo componente essencial é a tecnologia da informação e do conhecimento, não podem ser desassociadas das teorias educacionais que surgiram desde então.


Para reflexões sobre a inserção e o uso de novas tecnologias com nossos aprendizes “nativos digitais”, consideramos a definição de “mindsets” de Lankshear and Knobel (2003). São dois padrões de “mindsets”: aqueles que já nasceram na era digital, os “nativos” ou “insiders” e aqueles que nasceram anterior à era digital, os “outsiders”, “imigrantes” ou “newcomers”. Os outsiders foram apresentados à era digital e às novas tecnologias posteriormente na medida em que práticas socioeconômicas ou culturais “obrigaram-nos”. Muitos professores hoje em dia se encaixam nesta “categoria” e não se sente tão à vontade com as TCIs quanto os insiders.


Para Kress (2003), as novas “estruturas” do conhecimento produzem novas formas de distribuição da informação e por intermédio das novas tecnologias houve a redistribuição do poder da comunicação, acarretando grandes mudanças nas relações sociais e educacionais das últimas décadas, diretamente ligadas às TICs.

Estudos sobre “multiletramentos”- aqueles baseados em inserção de TCIs em práticas pedagógicas sob uma perpectiva sócio-crítica- podem ser considerados sob diferentes maneiras,  por exemplo, sócio-culturalmente referem-se a uma nova forma de “olhar” para letramentos, ou sob outro ponto de vista, esses estudos podem significar o estudo dos novos tipos de letramento.


Uma das principais ideias sobre o conceito de multiletramentos é a crescente complexidade e as interrelações dos diferentes modos de significado tais como design multimodal. Segundo o manifesto do New London Group, tal design é híbrido e representa a interconexão entre modos de significação. Portanto, para que um texto seja considerado “multimodal” ele deverá conter outros “modos” de significação em relações diversas,  além do modo linguístico . Esses outros designs são: o visual, o gestual, o espacial e o auditivo.


À luz de Granger (2002) para uma abordagem pedagógica da Linguística de Corpus, como uma nova perspectiva para aquisição de língua estrangeira, vemos que ao utilizar os princípios, ferramentas e métodos da Linguística de Corpus objetiva-se fornecer descrições da linguagem de aprendizes não nativos que possam ser aplicadas em pesquisas sobre o processo de aquisição da língua estrangeira.

Para Berber Sardinha (2001) a pesquisa em Linguística de Corpus com linguagem de não nativos representa uma área de impacto considerável no ensino de línguas e apresenta aplicações tais como preparação de materiais didáticos, descrição da interlíngua e análise dos indicadores de desvios do padrão da língua.

Ainda nesse panorama contemporâneo, para alguns autores como Seidlhofer (2002) a língua inglesa é reconhecida como língua franca da comunicação global e cada vez mais o conceito de “English as a Lingua Franca” (ELF) passa a representar a principal forma de comunicação entre falantes de todo o globo que  reformatam a língua inglesa em suas interações nas mais diversas culturas.


Objetivos


Pautados pelas orientações metodológicas da Linguística de Corpus e da Pedagogia de Multiletramentos, objetivamos apresentar uma intersecção como forma de investigação empírica para auxiliar professores de língua inglesa na inserção de TICs, na utilização de corpus de aprendizes para análises textuais (para uma produção autônoma) e promover interação entre aprendizes de língua inglesa como ELF.

Também objetivamos demonstrar que através do cruzamento das “disciplinas” contribuiremos para a inserção dos aprendizes, já “nativos digitais”, em diferentes práticas pedagógicas, preparando-os para interações futuras com outros aprendizes de outras comunidades linguísticas no âmbito global.


Metodologia


Utilizamos o Projeto COMET como centro para desenvolvimento da pesquisa e para a compilação de nosso corpus de aprendizes, que se constitui de redações de alunos da Universidade Paulista UNIP - São Paulo.

Segundo Tagnin (2008), por se tratar de uma coleta contínua, a configuração do corpus de aprendizes do CoMAprend/COMET “permitirá tanto estudos horizontais ou sincrônicos, quanto verticais ou diacrônicos, ainda possibilitando pesquisas promissoras sobre estratégias de redação em um corpus de aprendizes.”


Os estágios da nossa pesquisa e compilação de nosso corpus obedeceram à seguinte sequência:


1.apresentação de conceitos sobre o uso de Linguística de Corpus, ELF, novas TIC e  Pedagogia de Multiletramentos em aulas de língua inglesa;

2.cadastramento dos alunos ao projeto COMET- CoMAprend;

3.produção de textos em aulas de Língua Inglesa durante o ano letivo de 2008 na Universidade Paulista Campus Vergueiro;

4.submissão dos textos diretamente ao COMET em arquivos txt;

5.elaboração de exercícios em linhas de concordância;

6.elaboração de um texto multimodal a partir dos fundamentos dos Multiletramentos utilizando como ponto de partida as primeiras produções arquivadas no COMET;

7.compilação de um corpus de referência coletado na Universidade de Manitoba, Winnipeg, Canadá, durante os meses de Março a Junho de 2009;

8.comparação entre os dois corpora:  dos alunos universitários brasileiros e  canadenses, objetivando analisar as estruturas verbais de Língua Inglesa

Resultado


O cruzamento das áreas pedagógicas, a compilação de um corpus de aprendizes  e o enfoque da teoria de  Multiletramentos possibilitou a construção de um texto multimodal em aula de Língua Inglesa.


Palavras chave: Linguística de Corpus- Multiletramentos- novas tecnologias- ensino de 

Língua Inglesa.


Referências Bibliográficas


BERBER SARDINHA, T.  2001 O Corpus de Aprendizes BR-ICLE. Intercâmbio. Vol.X.

CASTELLS, M. 1999 Critical Education in the New Information Age. Critical Perpectives Series. Oxford. NY

GRANGER, Sylviane. (2002) Computer Learner Corpora. Second Language Acquisition   Foreign Language Teaching. Amsterdam. John Benjamin.

KRESS, G., 2003. Reading as Semiosis: interpreting the world and ordering the world in Literacy in the New Media Age. London and New York: Routledge.

LANKSHEAR, C. & KNOBEL, M. 2003. New Literacies: changing knowledge and classroom learning. OUP, New York

New London Group. 1996. A pedagogy of multiliteracies: Designing social futures. Harvard Educational Review, 66, 60–92.

SEIDLHOFER, Barbara. 2002b. “The shape of things to come? Some basic questions about English as lingua franca”. In Knapp, Karlfried; Meierkord, Christiane (eds.)

TAGNIN, S. E. O.  2008 Avanços  da Lingüística de Corpus no Brasil: Disponibilização de corpora online: os avancos do Projeto COMET . Org Stella E. O. Tagnin e Oto Araújo Vale .Humanitas.

 

Resumo