sitemap VIII Encontro de Linguística de Corpus
 
 
 

A realização do futuro verbal na variante castelhana do espanhol: uma análise em corpus oral


Carolina Parrini Ferreira (UFRJ)

Priscila Santos (UFRJ)


Esta pesquisa faz parte do projeto intitulado “Diferenças morfológicas entre o espanhol e o português do Brasil”, desenvolvido na Faculdade de Letras da UFRJ, e cujos objetivos são: investigar as diferenças morfológicas entre o espanhol e o PB e como os aprendizes brasileiros transferem os valores dos parâmetros de sua língua materna para o espanhol.

Neste momento apresentamos a etapa inicial de uma das pesquisas desenvolvidas no referido projeto, a qual trata do estudo da variação e mudança linguística das formas verbais de futuro nas variantes carioca do português do Brasil e castelhana do espanhol, analisando a distribuição das formas simples (”estudarei” / ”estudiaré”) e perifrástica (“vou estudar” / “voy a estudiar”) em corpora orais das citadas variantes.

A bibliografia consultada a respeito de nosso tema de estudo assinala que, para a variante carioca do PB, nas décadas de 70 e 90, predomina o futuro simples na escrita e a perífrase na fala (Oliveira, 2006); para o espanhol, Parra (2005) e outros estudiosos alegam uma mudança progressiva de implementação da forma perifrástica sobre a simples, sendo este fenômeno mais avançado no espanhol americano que no europeu, já que a variante castelhana ainda apresenta ocorrências da forma simples na fala, enquanto o espanhol americano já a substituiu, quase completamente, pela perífrase <ir no presente + infinitivo>. Em um estudo quantitativo, reunindo dados de várias pesquisas realizadas sobre o futuro verbal em diversas variantes do espanhol, Sedano (2006) mostra e confirma as diferenças de uso entre as citadas formas no mundo hispânico, já que observa que o espanhol falado em Madri prefere a forma simples enquanto as variantes americanas preferem a perífrase. Também Parra (2005), em seu estudo sobre a expressão variável do futuro, analisando o espanhol falado em Castellón de La Plana, encontra maior frequência da forma simples, embora observe um uso considerável da forma perifrástica.

Como se pode observar pela breve exposição de alguns dos estudos feitos em espanhol, a distribuição do uso das formas em análise não é uniforme e, com relação ao PB, este se mostra em etapas mais avançadas de substituição da forma simples pela perifrástica se comparado aos referidos dados do espanhol da Espanha.

Desta forma, fundamentadas no quadro teórico da Gramática Gerativa, segundo o qual os princípios gramaticais inerentes à linguagem de todas as línguas são fixos e inatos, pretendemos responder à seguinte questão: que fatores de ordem linguística condicionam a escolha de uma forma ou outra em cada uma das variantes?

A metodologia empregada para a análise dos dados foi a Linguística de Corpus, através do uso da ferramenta computacional WordSmith Tools em sua terceira versão, desenvolvida por Mike Scott e Oxford University Press. As ferramentas disponibilizadas pelo software permitiram que pudéssemos verificar a distribuição e o comportamento das formas verbais de futuro na variante castelhana do espanhol. Das três ferramentas básicas do programa (WordList, Keywords e Concord) e dos inúmeros utilitários (Character Profiler, Corpus Corruption Filer, Data Converter, File Utilities, File Viewer, Language Chooser, Minimal Pairs, Text Converter, Viewer & Align, WebGetter,WSConcGram), foram utilizados em nossa pesquisa: WordList, Concord, Text Converter e Viewer & Align.

Com a ferramenta WordList foi possível fazer um levantamento quantitativo detalhado das formas verbais estudadas através das três listas de palavras geradas: uma ordenada alfabeticamente, outra classificada por ordem de frequência das palavras e outra com estatísticas relativas aos dados usados para produção das listas. Com relação à ferramenta Concord, uma vez que produz as listagens das ocorrências dos itens específicos ou de um grupo de palavras acompanhadas do texto ao seu redor (o co-texto), permitiu visualizar as ocorrências das formas em análise em seus contextos de uso, o que foi de grande relevância para a análise qualitativa.

Uma vez que se trata de uma etapa inicial da pesquisa, propomos uma análise piloto num corpus exploratório. As amostras de fala espontânea nas quais analisamos o fenômeno linguístico proposto para estudo, compreendem doze entrevistas sociolinguísticas da década de 90, sendo todas do Projeto La Lengua Hablada en Alcalá de Henares Corpus PRESEEA-ALCALÁ. Os doze informantes cujas falas são analisadas estão distribuídos em três níveis de escolaridade (superior, médio e primário), sendo dois homens e duas mulheres jovens (faixa dos 20 anos de idade) e dois homens e duas mulheres idosas (faixa dos 60 anos de idade) em cada nível de escolaridade.

O levantamento quantitativo da amostra piloto identificou uma preferência pela forma perifrástica, mas também foram contabilizadas ocorrências de formas verbais simples, o que vai ao encontro dos estudos realizados e demonstra que o espanhol da Espanha mantém uma resistência maior no processo de substituição da forma simples pela perifrástica, diferentemente do PB e do espanhol falado na América. A análise qualitativa, realizada a partir de alguns fatores de ordem linguística, revelou resultados interessantes com relação ao emprego das duas formas, sobre tudo no que diz respeito à sintaxe oracional e à semântica das formas verbais analisadas, a título de exemplo poderíamos citar: o uso da forma verbal simples com outras semânticas que não a de futuro, como dúvida (“¿Qué valor? ¿Tendrá valor?”) e hipótese (“y ahora ya algunos (actores) serán famosos y no querrán trabajar con él”), o que não acontece com a forma perifrástica. Quanto à sintaxe, observamos que, embora ambas as formas apresentem maior número de sujeitos nulos, o que é esperado já que se trata de uma língua pro-drop, a forma perifrástica apresenta um número considerável de sujeitos plenos antepostos ao verbo.                                   

Resumo